segunda-feira, 21 de julho de 2014


A Água

Vemos, nos sutras, que o Buda usa freqüentemente o exemplo da água. A água muda sua forma de acordo com o recipiente no qual é colocada, mas nunca muda sua essência ou sua natureza. Quando numa tigela redonda, a água torna-se redonda. A água não é teimosa, como alguns homens; ela se adapta às situações. Contudo, ao mesmo tempo, ela permanece água e nunca muda sua própria essência


A água é muito humilde. Ela sempre procura o nível mais baixo. Nunca tenta chegar ao topo para se exibir; sempre vai para o fundo. O nível mais baixo é o lugar mais seguro, natural e pacífico. A água é suave e submissa; no entanto, tem um imenso poder dinâmico que pode girar grandes rodas d`água e derrubar diques e paredões de concreto. A água devasta a aldeia como um dilúvio; corrói o granito à beira-mar; pingando de uma calha, pode fazer um buraco na pedra. Ainda assim, ela é suave e dócil.


Ela é a coisa mais serena e pacífica numa calma manhã na baía. Eu sempre admiro o lago Michigan quando dirijo pela Marginal do Lago. Em algumas manhãs, o lago está calmo, em repouso, belo. Mas esse mesmo lago também mostra sua fúria terrível, açoitando as rochas da margem. Contudo, não há intenção, não há artificialidade na água.


A água não finge. Quando aquecida até certo ponto, transforma-se em vapor; quando esfriada até certo ponto, congela. Quando se transforma em vapor ou em gelo, ela deixa de ser água e de agir como água. Mas sua tendência é voltar à forma original. A água é extremamente versátil, de acordo com sua natureza.

A água é a fonte de toda a vida. Sem ela, não haveria vida. Quando as coisas estão molhadas, dizemos, “Está molhado e sujo” e não gostamos disso; mas a verdadeira umidade é a coisa mais importante na vida. Do mesmo modo, em nossa vida, muitos dos nossos problemas e dificuldades são coisas desagradáveis, mas os verdadeiros problemas são a própria vida. Se não houvesse problemas, não haveria vida.


Diz-se com freqüência que a mente de Buda é uma grande mente-oceânica. A mente de Buda é ampla o bastante para receber e aceitar todas as coisas e purificá-las, assim como o oceano recebe todas as águas poluídas dos rios e as purifica. Se tivermos uma grande mente-oceânica, acolheremos todas as coisas e não nos perturbaremos com elas. Não existe tensão, não existe nenhum tipo de complexo na grande mente-oceânica. Podemos meditar muito acerca da água; na verdade, podemos aprender muito com ela.


Rev. Gyomay Kubose

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